segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Centro Cultural de São Francisco - 210 anos de arte barroca na Paraíba

Calina Bispo
Repórter
19.01.09



Em 1799, de acordo com o historiador José Octávio de Arruda Melo, os franciscanos estariam concluindo a leste da Capela Nossa Senhora das Neves, a construção da igreja barroca de São Francisco, atualmente conhecido como Centro Cultural de São Francisco.

Localizada em uma das partes mais altas da capital paraibana, a edificação é uma das primeiras de João Pessoa, que se chamava àquela época Filipéia de Nossa Senhora das Neves. Agora em 2009 completam-se 210 anos de construção desse monumento, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde cinco de maio de 1938.

O conjunto arquitetônico é formado pela Igreja de Santo Antônio, e pelas capelas dourada e de São Francisco. Durante estes dois séculos, o complexo abrigou a Sede do Governo do Estado, um quartel e um hospital. Também funcionou como hospedaria de imigrantes, seminário diocesano, colégio etc.

A construção do complexo é inteiramente fiel ao barroco rococó, constituindo-se em importante monumento histórico-artístico e religioso. Para entender a importância dessa edificação, revisitaremos algumas características da arte barroca, surgida na Itália, ainda no século XVI, sob a influência do Concílio de Trento (realizado de 1545 a 1563) e da Contra Reforma.

Segundo a professora doutora Carla Mary S. Oliveira, da Universidade Federal da Paraíba, em artigo sobre a arte no período colonial brasileiro, a arte barroca se caracteriza através do predomínio da emotividade sobre a racionalidade, onde o objetivo principal do artista é atingir o observador através dos sentidos e da emoção, daí o uso da arte barroca pela Igreja da Contra Reforma.

É possível identificar ainda, elementos arquitetônicos de forte impacto e teatralidade, através do uso de efeitos decorativos e visuais, tais como curvas, contracurvas, volutas, dosséis e colunas retorcidas. Chegando ao Brasil, essas características se misturam a elementos da cultura indígena e africana.

Diz Oliveira, em artigo publicado na Web. "Entrar numa das igrejas barrocas da velha Parahyba nos séculos XVII e XVIII, portanto, não significava apenas ir cuidar das coisas do espírito. Significava também entrar no reino do bem, reino do belo. E esse reino dissimulava uma verdade maior - as estratégias de poder - através de um discurso espiritualizado, que pregava a conformação e o respeito às instituições".

A pesquisadora analisa ainda a forma como o Barroco e a Igreja contribuíram para legitimar o poder político colonial não apenas na Paraíba, mas em todo o Brasil. Sua leitura nos leva a uma compreensão exata da importância desse monumento no Estado.

"Através da banalização da hierarquização do mundo, tornando-a aceita pelo senso comum por meio do uso de elementos simbólicos, tornando as dificuldades e privações aqui encontradas lógicas e aceitáveis e traduzindo-as em discursos dos tipos mais variados, como os sermões, as epístolas, as encíclicas, as procissões e outros rituais e, por fim, as construções arquitetônicas e imagens barrocas".

E continua. "Desde seu início, a Igreja tinha nas obras de arte uma forma de doutrinar os fiéis... Na Igreja de São Francisco, por exemplo, existem muitos exemplos do uso das imagens e da própria arquitetura para transmitir mensagens religiosas e de conformação", conclui.

Atualmente o Centro Cultural abriga uma exposição permanente de arte sacra e barroca, além de exposições itinerantes de arte contemporânea. Desenvolve ações de arte-educação ao receber escolas da rede pública de ensino.

Até o final do mês de fevereiro, o funcionamento do centro é de segunda a segunda, sempre das 9h às 12h e das 14h às 17h. A partir do mês de março, a visitação do público em geral acontecerá de terça a domingo, em mesmo horário. O complexo do Centro Cultural São Francisco fica localizado na Praça São Francisco, s/n, Centro. João Pessoa - PB.

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