Calina Bispo
Repórter
14.01.09
No século 16, o escritor francês François Rabelais, autor das epopéias heróico-cômicas “Gargantua” e “Pantagruel”, já acreditava que o riso era o caminho para aliviar o sofrimento. No século 20, o teórico russo Mikhail Bakhtin, analisando a Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento a partir do contexto de Rabelais, dizia que o riso tinha uma importância e amplitude considerável nestes dois períodos históricos.
Para Bakthin, Rabelais foi o grande porta-voz do riso carnavalesco popular na literatura mundial. Entendia-se como riso carnavalesco o riso popular ambivalente que expressava uma opinião sobre o mundo em plena evolução no qual estão incluídos os que riem.
No século 21, o riso continua sendo considerado como um ótimo método para evitar o mau-humor e outras doenças, como observa a médica psiquiatra Andréia Lígia Vieira Correia, professora da disciplina de psiquiatria da Universidade Federal da Paraíba e das Faculdades de Ciências Médicas, e mestre em Neuropsiquiatria pela Universidade Federal de Pernambuco.
Por ser tão importante nas vidas das pessoas quanto em expressões artísticas como o teatro e a literatura, o riso é comemorado internacionalmente neste dia 18 de janeiro. Se a presença do riso significa algo bom, inteligível e alegre, a ausência dele pode representar a existência de uma doença cada vez mais freqüente na sociedade pós-moderna, explica a psiquiatra.
“O contrário do sorriso, o mau-humor, é uma doença chamada Distimia. Portanto, a impossibilidade de sorrir deve ser tratada”, afirma. “O riso possibilita melhorar o sistema imunológico, melhora a circulação e a respiração, diminui o estresse, aumenta a criatividade e produtividade, suaviza a dor e é um importante mecanismo de interação social. O riso ainda é capaz de nos fazer superar dores, adversidades, sintomas negativos e dar uma qualidade de vida melhor à pessoa que o utiliza”, enfatiza a médica.
As oportunidades de rir não nos faltam. Sejam de nós mesmos, dos amigos, dos desconhecidos. Também somos provocados a rir através de filmes, livros, espetáculos de teatro ou qualquer outra manifestação artística. Quem nunca riu diante de Charlie Chaplin, de textos de Ariano Suassuna, assistindo a uma peça de commedia dell’arte ou de um palhaço?
Para Fabíola Morais, concluinte de especialização em representação teatral na Universidade Federal da Paraíba, onde está investigando risível, o teatro se apropria do riso para se tornar completo. “A commedia dell’ arte é o auge do riso assim como o palhaço, sendo o avesso do homem, é o seu maior símbolo”, observa.
E continua. “Funciona como um elemento que adormece o sentimento e faz surgir a razão, pois o riso é pura inteligência. No teatro, só ri de uma situação aquele que a compreendeu. Não há riso sem humanidade e ele nunca vai deixar de existir”, sentencia Morais.
Além de ser um elemento fundamental para algumas expressões teatrais, o riso também proporciona benefícios físicos, psicológicos e sociais ao homem, alerta a médica psiquiatra Andréia Ligia.
“O riso faz trabalhar os músculos, melhora a oxigenação, estimula a circulação sanguínea, etc. Mas psicologicamente o riso tem uma importância fundamental, pois traduz um sentimento interno, que pode ser de alegria, bem-estar, ou de angústia se for um sorriso sarcástico”, diz a médica.
A psiquiatra afirma ainda que o serve também para minimizar o impacto da raiva. “Mesmo quando sorrimos apesar de não gostarmos do que estamos vendo, por exemplo. Finalmente, o riso esclarece a todos e traduz um bem estar interno, que hoje já sabemos que possibilita “contaminar” as pessoas ao redor”.
Seja nas artes ou na medicina, o riso sempre revela o estado de espírito de quem rir. E esta é a razão por ele ser tão necessário em tempos pós-modernos. “Hoje está bem estabelecido a utilidade do riso como coadjuvante terapêutico, principalmente em doenças graves e crônicas” afirma Andréia Lígia.
“Na nossa prática, notamos que o paciente que tem a capacidade de sorrir supera de modo mais fácil as dificuldades. Por outro lado, a depressão, que muitas vezes só aparece como mau-humor, dificulta a recuperação dos nosso pacientes”, conclui a médica.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário