segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

CARTAS/TRAJETOS

Calina Bispo
Repórter
06.02.09

José Rufino - Auto-retrato, técnica mista.


Uma exposição coletiva reunindo 12 importantes nomes da arte contemporânea brasileira traz de volta a João Pessoa as obras do paraibano José Rufino. Sem expor individualmente na Paraíba há mais de 20 anos, o artista integra a mostra coletiva Cartas/Trajetos, sob a curadoria do cearense Bitu Cassundé.

“Esse distanciamento com a Paraíba não é proposital, mas se deve, sobretudo, a falta de oportunidade de participar de um projeto como esse, que tem uma curadoria séria, um conceito filosófico e um pensamento estético”, explica José Rufino.

A mostra, sob a promoção do Centro Cultural do Bando do Nordeste, apresenta 12 artistas brasileiros, sendo José Rufino o único paraibano. A exposição será aberta ao público no próximo dia 12, na Usina Cultural Energisa, a partir das 20h.

“Diferente de outros artistas que possuem como eixo referencial experimentações pessoais e uma estreita relação entre Vida X Arte como Efrain Almeida e Leonilson (dados pessoais e biográficos são incorporados diretamente em suas poéticas), Rufino apropria-se da memória do outro e nela lapida a sua poética”, observa o curador da exposição.

E completa. “Outras questões em suas pesquisas que me interessam são: a pulsão literária dos seus trabalhos, as metáforas do corpo, a poética do tempo. Todos esses dados citados estão presentes em seu trabalho e essa confluência juntamente com os trabalhos dos outros artistas compõem Cartas/Trajetos”.

Bitu Cassundé reúne obras que considera emblemáticas na arte contemporânea brasileira. “As cartas possuem uma infinidade de referências presentes em nossas construções, sejam elas de caráter afetivo, de deslocamento, trânsito de informação, etc”, explica o curador.

“A carta é um corpo em movimento formada por palavras que elaboram paisagens particulares e transitam por um coletivo maior, a cidade. Me aproprio do sentido de ‘’carta’’ e através das metáforas e da poesia que existe nesse campo semântico construo um dos eixos da exposição”, diz Cassundé.

Carlos Melho (PE), Desenhos.

Outro eixo temático de Cartas/Trajetos, segundo o curador, é norteado pela idéia do Rizoma de Deleuze e Guattari. “As cartas ao se aproximarem das redes, circuitos, ramificações, tramas, traçados, trajetos, acercam-se do conceito de Rizoma”, diz. “A carta aparece como rede rizomatica e reflete as relações afetivas e de trama da comunicação contemporânea que deslocam o tema e o declina para outras proposições e leituras”, observa Cassundé.

Integram a exposição Cartas/Trajetos, além do paraibano José Rufino, os artistas Brígida Baltar (RJ), Bruno Farias (PE), Cao Guimarães (MG), Carlos Melo (PE), Efrain Almeida (CE), Gaio Matos (BA), Pablo Lobato (MG), Rosana Ricalde (RJ), Vitor César (CE), Waléria Américo(CE) e Yuri Firmeza (CE).

“Além dos eixos que elegi para trabalhar teoricamente as questões da coletiva, estabeleço diálogos nas construções que sucedem os seguintes agrupamentos: Carta/Corpo; Carta/Palavra; Carta/Cidade; Carta/Paisagem. Integro a palavra ‘’carta’’ uma nova relação sintática/semântica/poética e exercito essas declinações através da poética destes 12 artistas contemporâneos brasileiros”, completa.

É possível encontrar na proposta curatorial de Cassundé conceitos como não-lugar, realidade mista, transitoriedade, fluxo, nomadismo e deslocamentos. Tudo isso faz parte do seu campo de interesse e pesquisa. O curador afirma ainda que estas idéias acabam transitando de forma consciente ou não, em nosso cotidiano.

Efraim Almeida (CE), Mãos com coroas de espinhos, escultura.


“A exposição reflete sobre alguns desses conceitos através da poética dos artistas, aliado a isso convidei o artista Yuri Firmeza para ministrar a oficina DESMODELANDO: OBJETO PERMEÁVEL, como uma ferramenta prática de reflexão sobre esses conceitos e a exposição. A oficina também conta com a participação dos artistas Bruno Farias e Waleria Américo”.

O curador explica que a atividade realizada pelos artistas durante esta semana (ver Box com mais informações), trata-se de uma oficina teórica e prática que tem como mote conceitual as questões apontadas pela exposição Cartas/Trajetos.

Segundo Cassundé, primeiramente, serão discutidos textos que tenham convergência com a proposta curatorial da exposição, em seguida, serão apresentados trabalhos de artistas cujo as poéticas dialogam com tais questões abordadas nos textos e, por fim, os participantes realizarão ações em grupo e/ou individualmente, que problematize as discussões iniciais da oficina, encerrando com reflexões acerca do que foi produzido.

“A oficina não pretende focar em uma linguagem apenas. Os participantes podem trabalhar com performance, desenho, instalação, pintura e intervenção. O viés da oficina será a reflexão sobre o conceito de não-lugar, realidade mista, transitoriedade, fluxo, nomadismo e deslocamento. Dessa forma, a oficina encorpa a exposição com ferramentas práticas da reflexão crítica presente em Cartas/Trajetos”, conclui.


Exposição Cartas/Trajetos
Abertura: 12 de fevereiro às 20h
Usina Cultural Energisa
Av. Juarez Távora, 243 – Torre
CEP - 58040-022
(83)3221.5346/ 3221.6343
usina@energisa.com.br

OFICINA: DESMODELANDO: OBJETO PERMEÁVEL

Programação da Oficina:
dia 10/02/09 (14 às 18 h)
Papo com a artista Waléria Américo e programação desenvolvida por Yuri Firmeza.
dia 11/02/09 (14 às 18 h)
Papo com o artista Bruno Farias e programação desenvolvida por Yuri Firmeza.
dia 12/02/09/ 20h – Lançamento dos seguintes livros de Yuri Firmeza
Relações (2006); Souzousareta Geiutsuka (2007); Ecdise (2008).

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