quarta-feira, 5 de novembro de 2008

resenha Enraizados

Matéria publicada no Jornal A União e no blog: Mousse de Maracujá.

Calina Bispo
28.02.08
Repórter

Com excelência fotográfica, a música acabou sendo desperdiçada

A noite foi de festa para toda a equipe do vídeo de curta-metragem Enraizados, dirigido por Niu Batista e lançado na quarta-feira (27) no belo Theatro Santa Roza. Um vídeo de fotógrafo. Isso não há dúvida. Apesar das consistentes interpretações dos poetas Marco di Aurélio e Chico Viola.
Em poucas palavras o vídeo nos apresentou Minervino e Salustiano. Interpretados por dois homens, artistas e poetas dedicados a personagens densos. E é neste ponto que o roteiro e a direção de Niu Batista precisa amadurecer mais. A idéia subjetiva e introspectiva da vida de dois homens isolados de quaisquer resquícios de urbanidade é fértil, mas não eficaz, principalmente quando ela se instala em solos sertanejos.
Dramaticidade e tragicidade estavam presentes. Isso também ficou claro. O que não ficou claro foi a presença dos dois homens. E a transformação que a tragédia provoca? Isso não existiu, mas existiu o sofrimento e o conflito de idéias a citar o diálogo entre os irmãos sobre a ordem da mãe falecida em que os filhos não deveriam, jamais, ultrapassar as montanhas. Um comenta apenas reforçando a ordem, o outro contesta, mas também não ultrapassa. Uma boa metáfora para a vida, mesmo não sendo bem resolvida.
Um elemento fílmico se tornou excessivo e desperdiçado pela excelência da fotografia de João Carlos Beltrão: a trilha sonora. Feita exclusivamente para o vídeo, as composições são bonitas, mas não se encaixam com a textura fotográfica, nem muito menos com a narrativa do vídeo.
Em cenas como as que anunciavam o final trágico de um dos personagens, a música acaba se transformando em ruído, interrompendo bruscamente a harmonia do espectador com o texto visual. A pulsão na direção de fotografia dispensa qualquer elemento a mais.
A trilha sonora, que deveria ser um elemento fílmico, acabou provocando uma polifonia que não agrada nem aos ouvidos nem aos olhos que se encantam com as cenas que poderiam ser mais belas se o som direto tivesse sido mais explorado.
Quanto ao tempo do filme, foi bem aproveitado, pois não torna o vídeo denso nem cansativo, mesmo com poucos diálogos. Mas tem um problema. Como não há muito esclarecimento sobre o texto fílmico, o espectador acaba ficando meio que perdido por não entender bem do que se trata Enraizados.
Sabemos que é um breve tempo no tempo daqueles dois irmãos. Sabemos que eles têm referencias familiares muito fortes, mas não sabemos porque eles nunca saíram dali. Será que foi só porque a mãe deles disse para não faze-lo? E Minervino, o contestador? Se ele contesta, porque não muda e enfrenta?
Parabéns a Niu Batista que amadureceu em seu trabalho de direção. Isso é perfeitamente comparável quando relembramos O Mundo Yan, seu penúltimo vídeo, também dedicado a dramas pessoais, ao retratar as variações, aflições e alegrias de um portador de necessidades especiais.
Ao contrário do Mundo de Yan, Niu escolheu em Enraizados um caminho mais intimista ao dispensar os diálogos e investir na fotografia. Suas escolhas são mais seguras, revelando sua sensibilidade para investigar e emoldurar os conflitos pessoais do ser humano.
Niu Batista mostrou-se decidido ao lado de Marco di Aurélio, em fazer sem nenhum tipo de incentivo público ou privado, esta produção que é livre de imposições comerciais. A liberdade de Enraizados está garantida pelo trabalho em equipe que foi feito.
Uso aqui uma frase de Bruno de Salles, diretor do premiado Cão Sedento, ao final da estréia de Enraizados: “o cinema paraibano está vivo e as pessoas precisam saber disso!”.
É isso mesmo! Tão vivo que nossas produções não param. As pessoas estão sempre se organizado para filmar ou grava algo novo, ou propor um novo olhar em torno do velho. Prova disso é sabermos que há um Marcos Villar fazendo um vídeo poema sobre a barreira do Cabo Branco, ou um Otto Cabral que pretende documentar em um matadouro de Patos um daqueles homens que são responsáveis por esquartejar o boi e que na sexta-feira santa não trabalha – passa o dia na igreja, ou ainda um Arthur Lins que pensa em fazer um faroeste aqui em João pessoa, ou um Tiago Penna e sua Água Barrenta...a lista é grande, é só observar...

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