- Matéria publicada no Jornal A união
Calina Bispo
Repórter
17.03.08
Em meio ao ambiente que leva o nome de Sex World um filme diz a que veio. Ao tato, pelo tato e para o tato. A direção de Garbarski realça a importância do tato como metáfora, inclusive, para seu próprio papel de diretor. Seu toque deve ser macio como são as mãos de Maggie. O tato é tanto talento quanto ferramenta.
O filme é Irina Palm, que tem direção de Sam Garbarski, o mesmo de O Tango de Rashevski. É uma co-produção entre Alemanha, Bélgica, França, Luxemburgo e Reino Unido. A pré-estréia brasileira aconteceu na primeira semana de março em São Paulo, mas ainda não tem data definida para chegar ás salas paraibanas.
A história é a seguinte. Maggie (Marianne Faithfull – ícone dos anos 60 como cantora de rock e ex-namorada de Mick Jagger) é uma respeitável viúva inglesa, sem atributos que despertem grandes interesses, por parte, inclusive, de seu círculo de amizades. Ela tem um netinho sofrendo com uma doença grave que o mantém internado. Como esperança, apenas a certeza de que existe um tratamento na Austrália que pode ser a última chance de Ollie – seu neto. A partir daí o filme se desenrola, pois, aflita por não ter como ajudar seu filho e seu neto, Maggie sai em busca de emprego por Londres.
Mulher viúva, de casamento tradicional e totalmente inglês, Maggie descobre que o mercado de trabalho não está disposto a ser ocupado por pessoas com essas características. E é assim que a avó em desespero chega ao submundo londrino e responde a um anuncio de “atendente” na casa Sex World.
Na busca por encontrar uma alternativa para ganhar dinheiro e assim ajudar o filho Tom á pagar o tratamento do neto Ollie, Maggie não deixa de parecer familiar à Gracie, àqueles que assistiram ao Barato de Gracie, também inglês, dirigido em 2002 por Nigel Cole e que trata, também, da história de uma viúva em dificuldades financeiras que encontra em atividades improváveis as respostas para seus problemas financeiros e afetivos, pois o destino das duas mulheres é o mesmo em ambos os filmes.
Então voltemos á busca de Maggie por soluções financeiras. Sua determinação em conseguir dinheiro para salvar o neto faz com que ela venha a se tornar uma verdadeira profissional no clube do sexo, apesar de não trabalhar como prostituta e sim como masturbadora. Faithful merece comemorações pela generosa atuação no papel de Maggie.
A falta de informações de Maggie sobre a atividade que vai realizar no clube revela uma mulher inexperiente e reprimida sexualmente. E aí vem o possível e improvável, pois será esta senhora que desbancará suas colegas de trabalho, novas, bonitas e aparentemente bem resolvidas sexualmente.
O diretor optou por apenas sugerir o que se passa no interior do Sex Club. Ao não mostrar imagens explícitas e não investir em diálogos apelativos, apenas os sentidos (como o tato) e a interpretação comedida e na medida de Faithful são suficientes para atiçar a imaginação de qualquer espectador.
Vale chamar a atenção para um belo contra-plongée, sob luz vermelha, onde os homens chocam-se de prazer contra a parede na qual, do outro lado, a humilde senhora trabalha; o diretor obriga-nos a prestar atenção nos punhos que se cerram na barra de apoio, na vergonha do prazer sentido, na desenvoltura com que alguns outros se saciam.
Com o passar dos dias e um nome artístico, Irina Palm se torna a melhor profissional da cidade, conseguindo ganhar o suficiente para as despesas tanto do tratamento de seu neto quanto de si mesma, descobrindo-se vaidosa e feminina. Quando seu filho descobre a forma como a mãe está fazendo para conseguir o dinheiro o diretor consegue manter a mão firme e não transforma o filme em um dramalhão, ao contrário, do conflito que vem a tona, faz surgir a mulher que enfrenta a hipocrisia da sociedade inglesa de forma inteligente e totalmente convincente.
Vivendo uma vida dupla, Maggie descobre que a duplicidade não é fácil e aí o filme realmente não surpreende (este é o ponto fraco do roteiro), pois, ela sofre, sofre, sofre, mas no final, como em um conto de fadas, todos serão felizes para sempre.
Vale lembrar quando Maggie deixa de ser apenas uma pessoa a mais no círculo social que freqüentava antes de seu “emprego” para se tornar uma mulher invejável e por isso mesmo, reprovável junto ás “damas inglesas” de uma pequena cidade da Inglaterra. O confronto através de um diálogo inteligente torna o filme revigorante e suave, como também é O Barato de Gracie. Mas não há questionamentos ou sermões na intenção de Garbarski, o filme ultrapassa simplesmente o belo para ser estranho e prazeroso.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
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